O livro “O segundo sexo”, de Simone
de Beauvoir, completa 70 anos de sua publicação e continua sendo criticado por
quem nunca o leu. Nele que é publicada pela primeira vez a frase “não se nasce
mulher, torna-se mulher”, que voltou a gerar discussões depois de aparecer no
Enem e recentemente ser citada por um ministro do Supremo Tribunal Federal num
julgamento sobre homofobia.
É óbvio que Beauvoir não se
referia ao aspecto biológico. Salvo as exceções, todos nascem com pipiu ou pepeca.
O resultado dessa diferenciação natural que é o objeto de estudo e análise da
filósofa francesa, a construção social em torno do ser feminino.
Homens não nascem gostando de
futebol, de carros, vestindo azul e reafirmando a própria virilidade a cada
frase. Mulheres também não nascem gostando novela, de boneca, vestindo rosa e com
“tristeza de se saber mulher, feita apenas para amar, para sofrer pelo seu amor
e pra ser só perdão”, para citar o poetinha.
Nós nos tornamos aquilo que o meio
nos impõe sob vários aspectos e no início do século passado, o que se esperava
das mulheres é que não tivessem acesso à educação formal, ao mercado de
trabalho, que não tivessem direito de votar nem serem votadas, que vivessem
para cuidar dos homens e suportar caladas tudo que fosse feito com elas. Subalternas,
fraquejadas, um segundo sexo.
De lá pra cá, muito se avançou
com a consciência de que as mulheres podem ser o que elas quiserem. E se ela
quiser ser uma dona de casa que viva para cuidar da família ela tem esse
direito tanto quanto um homem pode tomar essa mesma decisão para si, mas elas
também podem sair e ganhar o mundo.
Subjugar metade da humanidade não
é algo positivo nem para a outra metade privilegiada, é um atraso que precisa
ser vencido por todos. A diferença inicial, biológica, dá a homens e mulheres
diferentes níveis de dificuldade e de liberdade na vida e é nosso dever moral
trabalhar para mitigá-los.
“Que nada nos defina, que nada
nos sujeite. Que a liberdade seja a nossa própria substância, já que
viver é ser livre” (Simone de Beauvoir)
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