A história da República
brasileira é um história de golpes, contragolpes e tentativas de golpes. Desde
sua instalação, passando pela eleição sob ameaça do Marechal Deodoro da Fonseca
na Constituinte de 1891 e pelo golpe que o mesmo viria a sofrer alguns meses
depois.
O presidente Getúlio Vargas resumiu
o clima político com a frase: “No Brasil, não basta vencer a eleição, é preciso
ganhar a posse”. E não é pra menos. Assim, como vários outros presidentes, Vargas
foi alvo da lógica golpista eternizada por Carlos Lacerda. “Getúlio não deve ser
candidato. Se for candidato, não deve ser eleito. Se for eleito, não deve tomar
posse. Se tomar posse, não deve governar”.
Assim tentou se fazer 1922 com
Arthur Bernardes, e se conseguiu em 1930 com Júlio Prestes. Golpista de 30,
Getúlio Vargas foi alvo de tentativa de golpe em 1932 e 1935, deu golpe em 1937
e foi deposto em 1945. De volta pelo voto, se suicidou em 1954 para evitar nova
deposição.
Os golpistas de 1954 foram os
golpeados de 1955 quando o Marechal Henrique Teixeira Lott agiu preventivamente
para garantir a posse de JK. Em 1961, foi Jânio Quadros tentou um golpe ao
renunciar com a intenção de voltar com poderes extraordinários. Planos furados,
deram em outro golpe, desse vez consentido, com a implementação do
parlamentarismo.
O golpe de 1964 foi o início de
uma série de golpes com os Atos Institucionais. Principalmente o AI-2, em 1965,
e o AI-5, em 1968. Passado o ápice da repressão e iniciado o lento processo de
reabertura, a linha dura ainda tentou derrubar Ernesto Geisel na demissão do
ministro Silvio Frota em 1977.
De lá pra cá, a duras custas, não
tivemos mais golpes. O resgate da autoridade da Presidência da República sobre
as Forças Armadas neste últimos episódio e o processo de reabertura arquitetado
pelo General Golbery do Souto e Silva foram essenciais para que tenhamos nos
livrado das instabilidades institucionais que marcaram nossa história.
A Presidência da República foi
devolvida aos civis, voltamos a ter eleições diretas, impedimos um mandato
presidencial dentro das regras constitucionais, o então vice-presidente da
República assumiu e completou o mandato mantendo a legalidade, tivemos
alternância de rivais no Palácio do Planalto. Tudo que em outros momentos
históricos geraria graves crises institucionais, nós conseguimos atravessar sem
maiores turbulências nos últimos tempos.
Agora, os derrotados do último
outubro teimam em não aceitar a derrota e resgatam o espírito golpista da velha
UDN, que esteve contido por todo esse tempo. A campanha acirrada e o resultado
apertado os encheram de energia não só suas lideranças políticas, mas também
sua base social, insuflados pelo caráter panfletário da mídia.
O resultado do que vivemos é
imprevisível, embora paralelos históricos mostrem que corremos o risco de
cairmos numa ditadura de cunho fascista ou, no melhor do cenário, num clima de
acirramento constante nos moldes venezuelanos. Em qualquer dos casos, o governo
precisa reagir, encarar o embate, tratar os golpistas como golpistas e
implementar o programa que foi vitorioso nas eleições do ano passado.
A história se repete, diz Karl
Marx, a primeira vez como tragédia e a segunda como farsa. Que o Brasil consiga
frear os farsantes da vez.
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