O Encontro de Definição de Tática Eleitoral do PT-MA decidiu, por por 87 votos a 85, que o partido apoiará a candidatura a governador do deputado federal Flávio Dino (PCdoB).
Nada contra a figura de Flávio Dino, mas a decisão tem tudo pra se mostrar equivocada.
Vamos lembrar algumas coisas.
Dino já foi petista há muitos anos e deixou o partido para exercer o cargo de juiz federal. Renunciou à magistratura para ser candidato a deputado federal em 2006, mas ao invés de voltar para um partido rachado como o PT, filiou-se ao PCdoB, um partido para chamar de seu.
O comunista surpreendeu ao conseguir mais de 120 mil votos e se tornar o quarto deputado federal mais bem votado nas terras maranhense perdendo apenas para dois filhos de ex-governadores, José Sarney Filho e Roberto Rocha, e o chefe da Casa Civil do governo da época, Carlos Brandão.
Aquela estranha eleição de 2006 no Maranhão foi vencida pela auto-entitulada "Frente da Libertação". A tal frente foi pensada pelo governador da época, Zé Reinaldo Tavares (PSB), que fora vice-governador de Roseana e eleito para o cargo depois de ter assumido o posto em decorrência à renúncia dela para disputar vaga no Senado, em 2002.
Durante o mandato, Zé Reinaldo, incentivado pela polêmica então primeira-dama Alexandra Tavares, rachou com o grupo da sarneysista e articulou a primeira derrota do grupo liderado por Sarney em 40 anos. Para tanto, a máquina do governo apoiou três candidaturas evitando assim a vitória de Roseana já no 1º turno:
- Jackson Lago (PDT), três vezes prefeito de São Luís, candidato a governador em 2002. Era o escolhido pra vencer;
- Edson Vidigal (PSB), ex-presidente do Superior Tribunal de Justiça e ex-advogado da família Sarney. O escolhido para tirar votos de Roseana;
- Aderson Lago (PSDB), então deputado estadual. O escolhido pra bater.
A vitória de um homem respeitável e respeitado como Jackson Lago deu esperança aos maranhenses. Esperança de que, como prometeram, libertariam o Maranhão, mas a verdade é que o velho assumiu rodeado de pessoas com índoles nada confiáveis.
O governo Jackson foi marcado pela ineficiência e pelas denúncias de corrupção e acabou sendo cassado. Jackson se utilizou no poder e para chegar a ele as mesmas práticas que sempre disse condenar no seu grupo rival.
E o PT nisso tudo? O PT indicou a vice da chapa de Edson Vidigal e compôs o governo Jackson sem destaque. O maior exemplo foi Bira do Pindaré, que venceu a eleição pra senador na capital, e foi nomeado "assessor especial" do governador, enquanto ao PSDB coube a Casa Civil, com Aderson Lago, e o apoio necessário para vencer as disputas pelas prefeituras de São Luís, com João Castelo, de Imperatriz, com Sebastião Madeira.
Parte do PT, a mais ligada ao deputado Domingos Dutra, fez parte da "resistência" contra a cassação do mandato de Jackson. Outra parte, a mais ligada ao deputado Washington Luiz, assistiu tudo calada. Calada, diga-se, como a sociedade maranhense.
Concretizada a cassação Roseana assumiu o mandato já se preparando para a reeleição e a oposição ainda meio que desorientada ensaia uma nova cooperativa de candidatos com o mesmo Jackson Lago, Flávio Dino e Roberto Rocha. Com uma diferença, a máquina do governo desta vez está nas mãos de Roseana, que a sabe usar muito bem.
Neste cenário o que faz o PT? Embarca na mesma canoa de novo. Decide apoiar Flávio Dino e se opor à candidatura de Roseana, mesmo ela apoiando a candidatura presidencial de Dilma Rousseff e tendo condições de aglutinar mais forças e formar um palanque mais forte pra ministra.
A candidatura de Flávio Dino não tem chances reais de vitória. O apoio do enrolado prefeito de Caxias Humberto Coutinho pode lhe ajudar a se eleger deputado federal, mas governador é outra história. Então pra que apoiar Dino e rachar o palanque de Dilma? Para marcar posição? Que posição? Priorizar os partidos tradicionalmente aliados? Ser contra a oligarquia Sarney?
Priorizar os partidos tradicionalmente aliados foi o que o PT fez em 2006 apoiando Vidigal. Onde está Vidigal hoje? Se preparando pra ser candidato a senador pelo PSDB.
Ser contra a oligarquia Sarney não é exatamente a melhor desculpa pra quem quer compor uma aliança que vai lançar Zé Reinaldo, ele mesmo, como candidato a senador.
Essa polarização entre sarneysistas e anti-sarneysistas é completamente falsa. Boa parte dos ex-membros da tal "Frente de Libertação" vieram de debaixo das asas do velho bigodudo. Vide João Castelo, Zé Reinaldo, Edson Vidigal e outros.
Por trás dessa cortina de fumaça está uma série de interesses e quem mais venceu foram aqueles cujos interesses não têm compromisso com o projeto nacional do PT, prioridade número 1 do partido.
E assim vai o PT, achando que todo mundo pode se aliar a ele, mas que ele não pode se aliar a ninguém.
Comentários
Isso se refletiu até na candidatura do PT para a sucessão de Lula. O partido simplesmente não possui quadros com projeção (além dos grampeados). Pelo jeito, a mesma degeneração seguirá nacionalmente.
Geralmente, é papel da direita ou das oligarquias quando perde a eleição cobrar de seu sucessor eficiência e induzir a opinião pública através dos seus meios de comunicação. Mas como cobrar “eficiência” e agilidade em menos de 24 meses de um governo que recebe um Estado que há 40 anos vem sendo sucateado por essa oligarquia?
Rachar o palanque da Dilma? E usar como pretexto palanque único só no Maranhão? E os outros Estados? Como seria bom se Dilma tivesse dois ou mais palanques em todos os Estados!.
A política meu caro é que nem nuvem e por traz dela, é claro, existem interesses. Isso não significa que a politica não tenha compromissos com os projetos nacionais, com os do Lula ou com os do partido dos trabalhadores.
Herbert Lago Castelo Branco
Poeta e Escritor
Caro Braga, gostaria de discordar da sua opinião. É natural, num Estado como o Brasil, que se equilibra entre a Federação e a República, existirem dificuldades para se estabelecer uma aliança política coerente em nível republicano (estadual) e em nível federal. No entanto, o Partido dos Trabalhadores e o Presidente Lula erraram em avaliar esse equilíbrio estadual-nacional, primeiramente na estruturação do partido (que tem focos de organização em algumas regiões, sobretudo em SP, e lambança geral nas demais). Mas no Maranhão esse desequilíbrio se apresenta de forma ainda mais lamentável e dramática, na aliança firmada com o grupo de Sarney. E o discurso que você faz aqui também apresenta esse desequilíbrio – aposto que a cúpula nacional do partido concorda com você.
A aliança feita no estado mostra que o PT não tem o mínimo compromisso com a sociedade maranhense. Coloca-se a serviço de uma tradição patrimonialista e oligárquica que há quase um século (Somando José Sarney e Vitorino Freire) debilita, escraviza mesmo a população daquele estado; isso em nome, todos diriam, da candidatura nacional do partido.
O PT se tornou importante na história deste país porque soube representar os interesses dos trabalhadores, das classes marginalizadas desse país. Foi com essa bandeira que votamos no candidato Lula. Hoje, é desesperador ver o comando nacional lutando contra os que combatem o atraso e a imoralidade representada pelo clã Sarney no maranhão. Tornou-se piada no Brasil inteiro a afirmação de que o Maranhão tem um dono. Não importa de onde você e, você já ouviu centenas de vezes essa ideia e sabe quem é esse dono.
Sendo maranhense e letrado, como é raro nesse estado, morro de tristeza ao ver que enquanto Sarney compra delegados petistas por 20 e 40 mil, a direção nacional do PT, que deveria ser um referencial (se não moral, ao menos político e estratégico) empurra os delegados no mesmo sentido. É triste descobrir que no Maranhão Sarney e PT são farinha do mesmo saco. Como vou acreditar que não?
O PT não se engrandeceria ao ser farinha do saco de Zé Reinaldo Tavares e afins.
O atraso do Maranhão não é só do Sarney. Afinal, João Castelo, Luís Rocha, pai de Roberto Rocha, Zé Reinaldo Tavares e Jackson Lago já passaram pelo Palácio dos Leões. O que eles fizeram diferente?
O que nunca houve nestes 100 anos que vc descreve foi a presença do PT no governo do Maranhão e esta é a primeira oportunidade de ver a política implementada em âmbito nacional, e que deu tanto certo, ser aplicada em terras maranhenses também.
Respeito sua opinião, apenas discordo.