Uns seis meses antes de morrer
Umberto Eco fez sua crítica mais contundente ao papel das novas tecnologias na sociedade
atual: “As redes sociais dão o direito à palavra a uma legião de imbecis que
antes falavam apenas em um bar e depois de uma taça de vinho, sem prejudicar a
coletividade".
A frase dita por tão renomado escritor
italiano nos dá a certeza que o processo de disseminação de informações sem critério
que nos espanta no Brasil não tem fronteira, é global. Com a pulverização da
capacidade de gerar e distribuir conteúdo, qualquer um em qualquer lugar pode atingir
os 15 minutos de fama que Andy Warhol nos prometeu sem ter responsabilidade com
o que é dito. É um drama que silencia o preparo, diminui a importância do
esforço e da técnica ao dar relevância para a gritaria vazia.
Na última sessão da Câmara
Municipal de Chapadinha ganhou destaque o bate-boca entre dois representantes eleitos
pelo povo e um ex-candidato a vereador na coligação da ex-prefeita Belezinha.
Como qualquer cidadão numa democracia, o suplente tem todo o direito de
manifestar suas opiniões independentemente dos 239 votos que conquistou de
maneira honrosa na última eleição ou dos que poderá alcançar no ano que vem.
Os atacados é que precisam escutar
os alertas feitos pelo vereador Nonato Baleco no seu pronunciamento: 1. Quem
está na vida pública será atacado. O que extrapola deve ser questionado na
Justiça. 2. Com a aproximação do processo eleitoral as críticas serão ainda
maiores por quem deseja ocupar suas cadeiras. 3. A obrigação deles é governar a
cidade para 80 mil habitantes, e não para um grupo de WhatsApp com 256 pessoas.
É difícil manter a noção de
proporção quando até senadores da República se prestam ao papel ridículo de decidirem
voto em matérias legislativas com base em enquetes de internet. Não podemos
confundir a obrigação que os agentes públicos têm de ouvir sociedade com a condição
de reféns de grupos virtuais. Isto não é mais do que o velho populismo que
marca a política brasileira, agora digitalizado.
Cobrada por um vereador a dar
satisfação sobre “um membro da mesa diretora” que foi “jogado nas redes sociais
com denúncias de falcatruas”, a presidente professora Vera fez muito bem em não
responder e pedir que o questionamento fosse feito de maneira simples e direta.
Como chefe de um poder ela demonstrou saber que deve satisfação ao povo, às
instituições e às leis, não ao “disse me disse” do zap zap. Que sirva de lição.
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