Quando o orçamento anual não é aprovado no Brasil o governo
segue funcionando mensalmente com 1/12 do orçamento do ano anterior. Nos EUA,
se o Congresso não aprovar o orçamento e/ou o presidente não sancionar, o
governo é paralisado (shut down). Agências governamentais param de funcionar, espaços públicos
fecham, servidores federais não recebem seus salários.
Eles estão nessa situação agora porque o Congresso, com a
Câmara dos Deputados controlada pelos democratas, não concorda com a proposta
do presidente republicano Donald Trump de construir um muro de US$ 5 bilhões na fronteira
com o México.
Esta foi uma das principais propostas de campanha de Trump.
Ele usou o medo para energizar sua base social e mantém a tese de que uma
barreira física é o melhor caminho para combater a entrada de imigrantes
ilegais.
Mesmo a maioria dos imigrantes ilegais dos EUA tendo chegado
lá de avião, com visto e simplesmente ficando mais do que era autorizado, o
discurso dele fala mais alto aos conservadores porque o principal combustível é
o preconceito com minorias, como mexicanos e outros latinos.
A queda de braço com os democratas poderia não ser tão ruim para Trump. Mesmo sendo obrigado a recuar ele poderia
ir para a campanha do ano que vem mostrando que fez tudo que podia para manter
sua promessa e pedindo para ser reeleito
com uma maioria republicana no Congresso.
O problema é que ele se vendeu aos eleitores como um grande
dealer, um negociador capaz de ganhar rios de dinheiro na iniciativa privada e
de driblar os entraves de Washington. Os democratas não têm nenhuma intenção de
permitir que ele mostre essa habilidade, principalmente porque a pressão do shut down está
toda no colo dele, depois de afirmar que deixaria o governo fechado por até mais
de um ano em nome de construir o muro.
Noutra hipótese, se os democratas cedessem, Trump ainda teria que
explicar porque na campanha dizia que o muro seria pago pelo próprio México e na
prática teve que usar US$ 5 bilhões do contribuinte americano para fazer essa
construção. Não é surpresa que o índice de aprovação do presidente já estava abaixo de 40% antes mesmo da paralisação do governo começa, há 20 dias.
Parte dos republicanos do Senado, onde eles têm maioria, já
aprovaram proposta democrata de orçamento sem os US$ 5 bilhões do muro e deixaram
para o presidente a tarefa de negociar com a maioria democrata da Câmara uma
saída. Enquanto isso, Republicanos mais moderados como o governador de Ohio John
Kasich e o próprio vice-presidente Mike Pence já são vistos como alternativa para
o partido não ser engolido como começou a acontecer nas eleições legislativas de
2018.
O mesmo partido Republicano de Ronald Reagan, famoso entre outras frases por aquela onde desafiava o líder soviético Mikhail Gorbatchov a derrubar o muro de Berlin, hoje está preso a um
presidente que pode derrubar a si e ao partido pela obsessão de levantar outro muro.
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