Pular para o conteúdo principal

Virar à esquerda e enfrentar o levante conservador

Uma ex-ministra, senadora e nova queridinha da mídia tradicional afirmou há alguns dias que "ou o PT muda ou se acaba". Esses dois verbos talvez sejam os mais presentes na história do partido. Nenhum mudou tanto, nenhum esteve tanto tempo sob a suposta ameaça de acabar.

O PT ia acabar quando não votou em Tancredo, ia acabar quando não votou no texto final da nova Constituição, ia acabar quando se opôs ao Plano Real e perdeu a eleição de 1994, ia acabar quando colocou um empresário como candidato a vice-presidente, quando aprovou a reforma da previdência, no mensalão, nos aloprados, nos cartões corporativos, na Petrobrás, no dengue, nas edições de medidas provisórias, na cor do vestido da Dilma na reunião ministerial. A cada capa de jornal viria a tão sonhada bala de prata que ia acabá-lo definitivamente. 

Enquanto isso, o partido venceu as eleições presidenciais pela quarta vez consecutiva, elegeu a maior bancada na Câmara Federal, lidera um projeto que dobrou o número de vagas nas universidades, tirou mais 30 milhões da miséria, levou energia elétrica para as zonas rurais, elevou a economia da 15ª para a 7ª posição no ranking internacional, enfim, colocou o país no rumo das mudanças sociais mesmo com todas as dificuldades que a correlação de forças impõe.

O PT é o único partido que elege todas as suas direções por meio do voto direto de cada filiado, com paridade de gênero e cotas para negros e jovens. Nenhum outro partido tem tanta inserção no movimento social e sindical. 

Ainda assim, o PT pode se dar ao luxo de parar de mudar. Charles Darwin nos ensinou que o mais evoluído não é o maior ou mais forte, mas o que melhor se readapta a novas circunstâncias. E a cada eleição e a cada nova crise, artificial ou não, a realidade que o partido tem que enfrentar é outra. 

Agora não se trata mais de finalmente chegar à Presidência da República, provar que pode governar, mostrar que o projeto pode ser continuado com outro presidente. Nessa etapa o PT terá que se realimentar de outras pautas e não mais dos sucessos desses 12 anos. 

As duas pautas que hoje embalam o partido são a reforma política e a regulação da mídia. Ambas vendidas como grandes soluções. Não são. Melhorar o sistema político é imperativo, mas não resolve os problemas da cultura política brasileira. Regular economicamente a mídia é prática nas democracias mais desenvolvidas, mas não fará com que a esquerda deixe de apanhar na imprensa enquanto não tiver seus próprios meios.

E por mais necessárias que sejam, nenhum das duas consegue dialogar com a sociedade nos setores que o partido tem perdido espaço. É necessária uma agenda que traga para o período não eleitoral a mesma disputa ideológica do último segundo turno.

Não apenas uma pauta ou duas, mas um conjunto de proposição que mostre que 12 anos de Palácio não transformaram o partido nisso que mídia mostra, que ele se readapta para a luta sem mudar de lado. Que a coalizão que sustenta o governo pode ser heterogênea, mas o PT é e continuará um partido de esquerda, sem centrismos.

Um universitário hoje com 20 anos, tinha 8 anos quando Lula subiu a rampa do Planalto. Esses que não viveram ou não se lembram do Brasil pré-Lula acham que ser anti-PT é ser contestador. Contestador é o PT e o partido tem que mostrar isso, ou não terá conseguido se readaptar a esse momento.

O partido deve evitar o imobilismo institucionalizado levantando a bandeira de reformas de base. O que era possível foi feito nesses três governos, mas para ir além é necessário enfrentar as mudanças estruturantes que urgem e não são poucas. A principal delas, na minha opinião: A reforma tributária. Taxar das grandes fortunas, rendas, patrimônios e heranças para desonerar o emprego e a produção, fazendo com que quem tenha mais pague mais, quem tem menos pague menos, e tornando a economia brasileira mais competitiva.

A mudança não é escolher esta ou aquele como candidato em São Paulo, é virar à esquerda, enfrentar o levante conservador que cresce no Brasil e mostrar isso para a sociedade, em especial à juventude.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Congresso petista adiado

A Executiva Nacional do Partido dos Trabalhadores decidiu nesta última terça feira adiar o 3º Congresso Nacional do partido para os dias 17,18 e 19 de agosto. A decisão terá de ser confirmada pelo Diretório Nacional (percebeu a quantidade de coisa nacional nessa notícia?). O Congresso estava marcado para os dias 7, 8 e 9 de julho, mas seu adiamento deve ser confirmado por dificuldades logísticas.

ALUIZIO SANTOS FALA SOBRE SUA SAÚDE

O secretário Aluizio Santos concedeu entrevista ao programa Alerta Geral, apresentado pelo jornalista Luis Carlos Jr. na rádio Cultura de Chapadinha, nesta manhã (10) e tratou do assunto que já estava dominando as rodas de conversa da política local: seu estado de saúde. Segundo o relato, desde o mês de junho ele estava acompanhando o aumento de dois linfonodos na sua virilha e decidiu, com a equipe de médicos que o acompanha em Chapadinha, pela remoção cirúrgica de ambos. O procedimento aconteceu no dia 25 de outubro e desde então ele ficou em repouso. O diagnóstico conclusivo sobre o tratamento de saúde ao qual ele precisará se submeter deverá ser apresentado em 10 dias, mas Aluizio tem voltado às atividades políticas, inclusive às articulações da sua pré-candidatura a deputado estadual. Assista o vídeo da entrevista no final da matéria.   ENTENDA O QUADRO A íngua é o inchaço dos linfonodos, pequenos órgãos do sistema linfático que atuam na defesa do organismo humano prod

BELEZINHA ASFALTOU ATÉ O CAMINHO PARA A REELEIÇÃO

Passada a eleição estadual, o único grupo vencedor em Chapadinha foi o que já ocupa a Prefeitura. O resto se dividiu entre sobreviventes, humilhados e aposentados. Após ter sido a candidata a deputada estadual mais votada da história do município em 2018, com 12.403 votos, Belezinha alargou o recorde com os 18.548 votos de Aluizio Santos, elegendo-o para o cargo e vendo os adversários absolutamente perdidos. Se na eleição anterior os demais grupos se dividiram em 8 candidaturas acima da faixa de 500 votos, somando 17.752, desta vez foram 11 candidaturas e apenas 15.109 votos. A pulverização e o desempenho fraco já demonstram que a oposição teria dificuldade de derrotar a prefeita mesmo se conseguisse uma improvável união para 2024. Entre os derrotados da eleição destacam-se os ex-prefeitos. Dr. Magno Bacelar passou pelo segundo constrangimento seguido (e desnecessário) sem conseguir mais do que 679 votos para Adriano Sarney e Isaías Fortes, que ficou aquém do prometido a Davi Bra