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Mostrando postagens de 2015

“O preparo pessoal não supera a construção coletiva” ou “Sobre a candidatura de Ciro Gomes”

Em contraste com a falta de pulso tantas vezes demonstradas por esse governo, as declarações firmes de Ciro Gomes fazem a militância de esquerda muitas vezes vibrar. Sem o peso da responsabilidade de conduzir o processo, ele está do lado de fora dizendo o que é preciso ser dito por alguém, mesmo que muitas vezes não possa ser colocado em prática o que ele diz. É o comentarista descolado palpitando sobre um time de treinador retranqueiro. Ciro tem toda a legitimidade para, mais uma vez, tentar se eleger presidente da República. Bem sucedido como prefeito, governador e duas vezes como ministro, conhecedor a fundo do Brasil, sabe dos desafios e é um estudioso das soluções. É uma pessoa preparada para tarefa. Seus descaminhos partidários demonstram mais a falência do nosso sistema político do que um desvio de conduta pessoal. Seu temperamento impulsivo, tantas vezes apresentado como argumento para veto, foi de grande utilidade em momentos difíceis como a crise do mensalão e a

Por que só Paris?

Por que não se solidarizar também com Mariana-MG? E os universitários cristãos no Quênia mortos pelo mesmo Estado Islâmico? E as centenas de alunas no nordeste da Nigéria mortos pelo Boko Haram? E as crianças palestinas vítimas dos bombardeios israelenses? E os 11 jovens assassinados na periferia de Fortaleza-CE? E os 20 mortos em Osasco e Barueri? E o Raimundo, pedreiro assassinado na porta da minha casa numa tentativa de latrocínio? E o sujeito transtornado em Itu que foi assassinado pela polícia ao tentar se suicidar (!)? E os dois mortos na Pavuna porque o policial confundiu um macaco hidráulico com uma arma? São tantas tragédias ao redor do mundo que deveríamos, para manter a coerência, nos manter constantemente indignados. Mais do que indignados, precisamos agir para que menos atrocidades aconteçam. Deveríamos pactuar entre nós que todos tenham direitos fundamentais independente da sua origem, etnia, orientação sexual, gênero, classe social ou qualquer outra forma de d

Governo isolado, oposição sem rumo e a necessidade de haver alternativa

A menos de um ano das eleições municipais, Chapadinha clama por uma alternativa ao que está posto.  O governo perdido em picuinhas, perseguições e mentiras construiu o isolamento político da prefeita. Ela criou brigas desnecessárias com todo mundo por achar que poderia mandar na cidade como mandava nas suas empresas. Brigou com o governo do estado, com os dois deputados estaduais da região, com o ex-prefeito que a apoiou e até com a presidente da Câmara que ela ajudou a eleger.  Já são nove dos quinze vereadores a se declarar abertamente fora da base aliada à prefeita (mais um já seria número suficiente para pedir seu afastamento do cargo). Isso sem falar de um sem número de secretários e aliados que continuam no governo aguardando o momento certo para abandonar o barco. Ou a arca.  Seria até de se duvidar que a prefeita tivesse a intenção de disputar a reeleição, mas, substituindo-a ou não, o grupo que hoje comanda a prefeitura parece apostar na força da máquina e do dinh

A arca da muié ou a canoa furada dos cachorros grandes?

Chapadinha é uma cidade sem sorte ou sem juízo. Escrevi há pouco mais de um mês que a nossa tarefa em 2016 seria derrotar a prefeita Belezinha com algo melhor, mas fui surpreendido com a resposta: candidaturas de pessoas honestas e honradas devem ser gentilmente ignoradas.  Em seguida veio uma lista com as opções que podem ser levadas em alguma consideração para enfrentar a prefeita, os cachorros grandes. Sejamos sinceros, entre esses, os que não estão inelegíveis são (muito) piores do que Belezinha.  Ainda assim, para meu desencanto, a maior parte da oposição decidiu que a tarefa é derrotá-la a qualquer custo, mesmo que seja para colocar em seu lugar alguém com os mesmos ou piores defeitos que ela tem. Quem vai se arvorar de coerente depois de passar quatro anos acusando Belezinha de corrupta e terminar votando no "deputado fantástico"? Ou, em nome dos professores e demais trabalhadores, votando em quem deixou os salários atrasados? Ou ainda acusando a prefeita de

Eu queria um referendo sobre maioridade penal

Quando foi marcado o referendo sobre a comercialização de armas, a maioria absoluta da população era a favor da proibição. Meses de debate depois, a proposta foi derrotado no voto. Duvido que a proposta de reduzir a maioridade penal resistisse a alguns meses do país aprofundando esse debate que tem se dado de maneira tão rasteira. E digo porque já fui um ferrenho defensor da redução da maioridade penal. Aliás, já fui um admirador de jornalistas estilo Datena, já bradei com orgulho que "direitos humanos são para humanos direitos", já daí tomei uma atitude radical. Ler. E quanto mais li, mais percebi o quão pouco eu sabia e ainda sei. Criei outro entendimento da sociedade e do ser humano e hoje sou contra a redução. Posso até abrir mão desta minha convicção, mas em nomes de argumentos plausíveis. Não recuo pela afirmação rasa de que quem tem a minha opinião defende a impunidade. Alguém tem coragem de dizer que os bispos da Igreja Católica defendem bandidos, dad

Geração descartável

"Desenvolvemos a velocidade, mas isolamo-nos uns dos outros. A maquinaria que nos poderia dar abundância deixou-nos na penúria. Nossos conhecimentos fizeram-nos cépticos; nossa inteligência, cruéis e severos. Pensamos muito e sentimos pouco." O trecho acima é do discurso de Charles Chaplin no filme  "O Grande Ditador", de 1940. Depois de 75 anos, o discurso é ainda mais atual do que à época.  Na mesma fala, Chaplin cita o rádio e o avião como exemplos de invenções que aproximaram pessoas distantes. O que diria hoje na era das redes sociais, das informações instantaneamente espalhadas?  Pensamos ainda mais, sentimos ainda menos.  A forma de interagir com o meio modifica a nossa forma de interagir um com o outro. A velocidade dos acontecimentos e das informações não nos permite aprofundar em nada. Nos fechamos ainda mais em nós mesmo e na nossa visão estreita e sem base sólida do mundo ao redor. Não há meio-termo ou moderação. Cada experiência é ti

Eleição proporcional, sem coligação e com partidos democráticos

A disputa que se trava nos debates sobre a reforma política entre eleição proporcional, distrital ou em distritão não é mera formalidade de método de soma de votos, mas de concepção política. Na eleição distrital é eleito o mais votado entre os candidatos de uma determinada região. Assim, a votação é meramente geográfica. Mesmo que nenhum candidato nas redondezas me represente, eu estarei preso a votar e ser representado por um deles, mesmo que alguém de outra região do estado defenda as mesmas bandeiras que eu defendo ou faça parte da mesma categoria que eu quero ver representada, estarei impedido de dar meu voto consciente a ele. No chamado distritão, a votação não é geográfica, mas personalista. Se há 42 vagas, os 42 candidatos que receberam mais votos individualmente estão eleitos. Aí não importa o que cada um defenda, não importa quantos votos cada proposta tenha recebido, não importa nenhum debate que não gire em torno da personalidade com um belo sorriso na tela. A Câ

O mal que eles tentam reacender

A história da República brasileira é um história de golpes, contragolpes e tentativas de golpes. Desde sua instalação, passando pela eleição sob ameaça do Marechal Deodoro da Fonseca na Constituinte de 1891 e pelo golpe que o mesmo viria a sofrer alguns meses depois. O presidente Getúlio Vargas resumiu o clima político com a frase: “No Brasil, não basta vencer a eleição, é preciso ganhar a posse”. E não é pra menos. Assim, como vários outros presidentes, Vargas foi alvo da lógica golpista eternizada por Carlos Lacerda. “Getúlio não deve ser candidato. Se for candidato, não deve ser eleito. Se for eleito, não deve tomar posse. Se tomar posse, não deve governar”. Assim tentou se fazer 1922 com Arthur Bernardes, e se conseguiu em 1930 com Júlio Prestes. Golpista de 30, Getúlio Vargas foi alvo de tentativa de golpe em 1932 e 1935, deu golpe em 1937 e foi deposto em 1945. De volta pelo voto, se suicidou em 1954 para evitar nova deposição. Os golpistas de 1954 foram os golpead

Virar à esquerda e enfrentar o levante conservador

Uma ex-ministra, senadora e nova queridinha da mídia tradicional afirmou há alguns dias que "ou o PT muda ou se acaba". Esses dois verbos talvez sejam os mais presentes na história do partido. Nenhum mudou tanto, nenhum esteve tanto tempo sob a suposta ameaça de acabar. O PT ia acabar quando não votou em Tancredo, ia acabar quando não votou no texto final da nova Constituição, ia acabar quando se opôs ao Plano Real e perdeu a eleição de 1994, ia acabar quando colocou um empresário como candidato a vice-presidente, quando aprovou a reforma da previdência, no mensalão, nos aloprados, nos cartões corporativos, na Petrobrás, no dengue, nas edições de medidas provisórias, na cor do vestido da Dilma na reunião ministerial. A cada capa de jornal viria a tão sonhada bala de prata que ia acabá-lo definitivamente.  Enquanto isso, o partido venceu as eleições presidenciais pela quarta vez consecutiva, elegeu a maior bancada na Câmara Federal, lidera um projeto que dobrou o núme