Escrevi aqui recentemente dois textos sobre a disputa política no Maranhão para esclarecer porque defendo aliança entre PT e PMDB naquele estado. E que não haja engano, eu defendo esta aliança.
Para reler clique aqui e aqui.
Ambos os textos são tautológicos entre si e têm conteúdo até óbvio, mas muitas vezes esta é a função da análise política, dizer aquilo que está em frente aos nossos olhos, mas que os interesses paralelos tentam esconder com discursos vazios e ações pirotécnica.
Sim, é óbvio que a construção política da oposição maranhense é arquitetada pelo ex-governador José Reinaldo Tavares (PSdB), aquele preso na Operação Navalha da Polícia Federal. É óbvio também que Zé Reinaldo, Jackson Lago (PDT) e os seus tucanos não visam fortalecer a candidatura presidencial de Dilma Rousseff. É óbvio que participar desta construção não interessa ao PT. Porém, causei espanto em alguns petistas ao dizer tudo isso.
Estes petistas acreditam ser possível construir um campo democrático e popular ao lado dessas figuras e que esta escolha tática pode fortalecer o partido. A única possibilidade disso fazer sentido seria na eventualidade de Flávio Dino (PCdoB) ser eleito governador, romper o acordo de cooperação com Jackson e Zé Reinaldo e o PT assumir a linha de frente do eventual governo Dino.
As chances disso tudo acontecer, contudo, são menores do que as chances do Vasco ser campeão brasileiro este ano. Antes de mais nada porque a carreira política de Flávio Dino está umbilicalmente ligada a Zé Reinaldo, a quem ele deve seu mandato de deputado federal. Segundo porque a candidatura de Dino não tem competitividade suficiente. Analisemos.
Além da inexplicável eleição de Flávio Dino a deputado federal em 2006 (ou explicável até demais?), o frenesi em torno do seu nome se dá pela votação que teve nas eleições municipais de 2008, quando disputou a prefeitura de São Luís, chegou ao segundo turno e foi derrotado pelo tucano João Castelo.
O fenômeno Flávio Dino naquela eleição (volto a ressaltar: com meu apoio e do PT petista) aconteceu da seguinte forma. A disputa pela prefeitura de São Luís nas três eleições anteriores (2004, 2000 e 1996) aconteceu polarizada entre os grupos de Jackson Lago e João Castelo. Em 2008, o pedetista, ocupando o Palácio dos Leões, apoiou o tucano e criou-se um espaço vago que Flávio, apesar do baixo nível de conhecimento, conseguiu ocupar graças a um único argumento: era o candidato de Lula.
Para se ter uma idéia, em agosto daquele ano, Castelo tinha 51% das intenções de voto e Flávio Dino apenas 7%, mas nas vésperas da eleição, o principal cabo eleitoral do comunista, o presidente Lula, tinha 77% de avaliação bom/ótimo e apenas 3% de ruim/péssimo na capital maranhense. Enquanto isso, o governo Jackson Lago sofria com apenas 17% de bom/ótimo e expressivos 47% de ruim/péssimo.
Resultado: João Castelo teve 43% dos votos válidos contra 34% de Flávio Dino no primeiro turno. No segundo turno, a candidatura do tucano Castelo, que chegou a distribuir adesivos com os dizeres "Sou Lula, voto Castelo", alcançou 55% dos votos válidos e foi vitoriosa.
Isto tudo, é bom lembrar, aconteceu no cenário político de São Luís, que é muito diferente do estadual. No Maranhão como um todo não há espaço vago a ser ocupado por Dino. A polarização se dá entre os grupos liderados por Jackson e pela governadora Roseana Sarney.
Mais importante do que isso, Flávio Dino não terá nesta campanha o argumento de ser "o candidato do Lula", muito pelo contrário. O presidente Lula já deixou claro que apoiará a reeleição de Roseana.
De promessa a decepção
A esperança criada nas eleições de 2008, quando Flávio Dino parecia surgir como uma alternativa para São Luís e para o Maranhão, acabou no momento ele voltou para os braços do seu criador político e passou a se utilizar e se deixar ser utilizado pelo esquema Jackson-Reinaldista.
Se ele optou por este caminho pensando que pode se viabilizar para eleições futuras, esta é uma questão dele e do partido dele. O PT não pode ser coadjuvante do coadjuvante. O PT tem que se preocupar é em garantir a vitória de Dilma Rousseff e fortalecer o partido no Maranhão.
Roseana com a faca e o queijo na mão
No primeiro turno das eleições de 2006, com o governo do estado trabalhando criminosamente contra sua candidatura, Roseana teve 47,2% dos votos válidos.
Desta vez, não apenas ela disputará com a máquina do governo a seu favor, mas deverá ter o apoio de todos os partidos que estiveram com ela em 2006 e pode ampliar com o PRB e, provavelmente, o PT.
Na foto
Será que Bira do Pindaré tem orgulho de ser fotografado festejando ao lado de Zé Reinaldo?
Comentários
No Maranhão uma parte do PT não aceita a coligação com Flávio Dino (PcdoB). Motivo: o projeto nacional, que passa pela coligação com o PMDB.
Tudo muito bom, tudo muito bem. Acontece que o argumento cai por terra com um sopro. O PMDB do Maranhão estará coligado com o DEM. Desde quando o DEM faz parte da base aliada? E desde quando é parte do projeto nacional?
jorge henrique
funcionário público
Apesar da aliança com o DEM, Roseana já deixou claro que apoiará Dilma Rousseff.
Se o fato de ter apoio de partidos da oposição inviabilizasse a aliança, o PT do Maranhão não teria opção senão lançar uma candidatura própria já que o esquema jackson-reinaldista tem o apoio de PSDB e PPS.